O homem que me ensinou a ver - John Piper

Realmente, eu agradeço a Deus por professores e escritores que de­dicaram energias criativas tremendas para tornar crível a existência de ár­vores e água e almas e amor e Deus. C. S. Lewis, que morreu no mesmo dia que John F. Kennedy, em 1963, e que ensinava inglês na Universidade de Oxford, veio caminhando para aparecer no cimo do horizonte de meu caminhozinho marrom em 1964 com um brilho tão refulgente que é difícil exagerar o impacto que teve sobre a minha vida.

Alguém me apresentou a Lewis no meu ano de calouro com o livro Mere Christianity [Mero Cristianismo]. Durante os cinco ou seis anos seguintes quase nunca eu estava sem um livro de Lewis à mão. Acho que sem a influência dele eu não teria vivido minha vida com tanta alegria ou utilidade como vivi. Há razões para isso.

Ele me fez ter cautela quanto a esnobismo cronológico. Isto é, ele me mostrou que o novo não é nenhuma virtude e o velho não é nenhum vício. A verdade e beleza e bondade não são avaliadas por quando existiram. Nada é inferior por ser velho, e nada é valioso por ser moderno. Isso me libertou da tirania da novidade e abriu para mim a sabedoria das eras. Até hoje eu recebo a maioria de meu alimento-da-alma de séculos passados. Agradeço a Deus pela demonstração convincente do óbvio que Lewis me deu.

Ele demonstrou para mim e me convenceu de que a lógica rigorosa, precisa, penetrante não é oposta ao sentimento profundo, comovente, e a imaginação viva- até brincalhona. Ele foi um "racionalista romântico". Com­binava coisas que quase todos hoje presumem ser mutuamente exclusivas, racionalismo e poesia, lógica fria e sentimento quente, prosa disciplinada e imaginação livre. Ao estilhaçar esses velhos estereótipos, ele me libertou para pensar bem, e para escrever poesia, argumentar pela ressurreição e compor hinos a Cristo, furar um argumento e abraçar um amigo, exigir uma definição e usar uma metáfora.

Lewis me deu uma percepção intensa do "real" das coisas. A preci­osidade disso é difícil comunicar. Acordar de manhã e estar apercebido da firmeza do colchão, do calor dos raios solares, o som do tique-taque do relógio, o puro ser das coisas. Ele me ajudou a tornar-me vivo para a vida. Ajudou-me a ver o que está aí no mundo - coisas que, se não as tivésse­mos, pagaríamos um milhão de dólares para tê-las, mas tendo-as, nós as ignoramos. Ele me fez mais acordado para a beleza. Ele pôs minha alma de alerta para saber que há maravilhas diárias que despertarão a adoração se eu abrir meus olhos. Ele sacudiu minha alma que cambaleava e jogou a água fria da realidade no meu rosto, de sorte que a vida e Deus e o céu e o inferno invadiram o meu mundo com glória e horror.

Ele expôs a oposição intelectual sofisticada ao ser objetivo e valor objetivo revelando a tolice nua que era. O rei filosófico da minha geração não estava vestido, e o escritor de livros infantis da Oxford teve a coragem de dizê-lo.
Você não pode continuar "enxergando através das coisas" para sempre. A importância toda de enxergar vale de alguma coisa é ver algo através dele. E bom que a janela seja transparente, por­que a rua ou jardim mais à frente dele é opaco. E se você enxer­gasse através do jardim também? Não adianta tentar "enxergar através" de primeiros princípios. Se você enxergar através de tudo, então tudo é transparente. Mas um mundo inteiramente transpa­rente é um mundo invisível. "Enxergar através" de todas as coisas é o mesmo como não enxergar.
Ah, quanto mais poderia ser dito sobre um mundo como C. S. Lewis o via e sua maneira de falar. Ele teve seus defeitos, alguns deles sérios. Mas nunca cessarei de dar graças a Deus por esse homem notável que cruzou meu caminho no momento exato.

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