A Tumba de Jesus - (Sermão) - C. H. Spurgeon

“Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia.” – Mt 28: 6.¹

Qualquer circunstância ligada à vida de Cristo é de profundo interesse da mente do Cristão. Onde quer que contemplemos o nosso Salvador, ele é digno de nossa atenção.

“Sua cruz, sua manjedoura e sua coroa,
São grandes glórias ainda desconhecidas.”

Toda a sua desgastante peregrinação, da manjedoura de Belém à cruz no Calvário, é, aos nossos olhos, pavimentada de glória. Cada lugar sobre o qual ele pisou é, para as nossas almas, de imediato consagrado, simplesmente porque ali o pé do Salvador do Mundo e nosso próprio redentor foi uma vez colocado. Quando ele chega ao Calvário, o interesse aumenta; então os nossos melhores pensamentos estão centrados nele, nas agonias da crucificação, nem a nossa profunda afeição permite que o deixemos, mesmo quando a luta já está terminada, e ele entrega o espírito. Seu corpo, quando é descido do madeiro, ainda é agradável aos nossos olhos – amorosamente nos demoramos em volta do corpo inanimado. Pela fé discernimos José de Arimatéia e o tímido Nicodemos, assistidos por aquelas santas mulheres, arrancando os cravos e baixando o corpo   ferido e desfigurado; os contemplamos envolvendo-o em linho branco e limpo, rapidamente envolvendo com perfume, e então o colocando no seu sepulcro e partindo para o seu descanso no Sábado. Nós iremos nessa ocasião, onde Maria foi ao primeiro dia da semana, quando acordando do seu leito antes do amanhecer, ela se levantou para estar cedo no sepulcro de Jesus. Nós tentaremos se possível, com a ajuda do Espírito Santo, ir como ela foi – não no corpo, mas na alma – nós estaremos de pé na tumba; nós a examinaremos, e cremos que ouviremos uma voz falando de verdade vinda das profundas cavidades que nos confortará e instruirá, de modo que possamos dizer do túmulo de Jesus quando formos embora, “Não era outro lugar senão o portão do céu” - um lugar sagrado, profundamente solene, e santificado pelo corpo morto do nosso precioso Salvador.

I. UM CONVITE É FEITO. Eu começarei meus comentários nesta manhã convidando todos os Cristãos a virem comigo à tumba de Jesus. “Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia.” Faremos tudo para apresentar o lugar de modo atrativo, gentilmente tomaremos sua mão para guiá-lo até lá; e possa ser do agrado do nosso Mestre fazer que os nossos corações queimem dentro de nós enquanto formos conversando pelo caminho.
Fora vocês, profanos – vocês cujas almas são riso, insensatez e hilaridade!
Fora vocês, de mente sórdida e carnal, que não têm gosto pelo espiritual, nem deleite no celestial. Nós não pedimos as suas companhias; estamos falando aos amados de Deus, aos herdeiros do céu, aos santificados, aos redimidos, aos puros de coração – e a eles dizemos “Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia.” Vocês certamente não precisam de argumentos para mover os seus pés na direção do santo sepulcro; mas ainda assim usaremos do maior poder para transportar o seu espírito naquela direção. Venham, pois, porque é o santuário das grandezas, é o lugar de descanso do homem, o Restaurador da nossa raça, o Conquistador da morte e do inferno. Homens viajarão centenas de milhas para contemplar o lugar onde um poeta pela primeira vez respirou o ar sobre a terra; são capazes de jornadas à antigas tumbas de heróis poderosos, ou às sepulturas de homens reconhecidos pela fama; mas onde irá o Cristão para encontrar a sepultura de alguém tão famoso como foi Jesus? Me perguntem quem foi o maior homem que já existiu – eu lhes direi que o homem foi Jesus Cristo “ungido com o óleo da alegria sobre os seus companheiros.” Se vocês procuram uma câmara honrada como o local de descanso de um gênio, vire-se para cá; se vocês adoram na sepultura de santidade, venham para cá; se vocês quiserem ver o santificado lugar onde os mais escolhidos ossos que já foram criados jazeram por um tempo, venham comigo Cristãos ao grande jardim, junto aos muros de Jerusalém.
Venham comigo, além do mais porque é a tumba do nosso melhor amigo. Os judeus disseram de Maria, “ela vai à sepultura dele para chorar lá.” Vocês perderam seus amigos, alguns plantaram flores sobre as tumbas deles, vocês vão  e se sentam à noitinha no gramado verde, regando o capim com as suas lágrimas, porque ali a sua mãe descansa, e o seu pai ou a sua esposa. Oh! Em pesarosa tristeza venham comigo a esse escuro jardim do enterro do nosso Salvador; venham à cova do seu melhor amigo – seu irmão, sim, alguém que se aproxima mais que um irmão.” Venham vocês à sepultura do seu mais querido parente, Oh! Cristão, porque Jesus é seu marido, “O seu Criador é o seu marido, o Senhor dos Exércitos é o nome dele.” A afeição não mexe com você? Os doces lábios de amor não encantam você? Não é o lugar santificado onde alguém tão amado dormiu, ainda que por um momento? Certamente vocês não precisam de eloqüência; se ela fosse necessária, eu não tenho nenhuma. Eu tenho apenas o poder, sem rodeios, a não ser determinadas entonações, de repetir as palavras, “Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia.” Nesta manhã de Páscoa faça uma visita à sepultura dele, porque é a sepultura do seu melhor amigo.
Sim, e mais, eu ponho mais urgência a vocês para essa pia peregrinação. Venham, porque os anjos lhes ordenam. Os anjos disseram, “Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia.” A tradução Siríaca reza: “Vinde ver o lugar onde o nosso Senhor jazia.” Sim, os anjos se misturaram com aquelas pobres mulheres, e usaram um pronome comum – nosso. Jesus é o Senhor dos anjos tanto quanto dos homens. Vocês frágeis mulheres – vocês que o chamaram de Senhor, vocês que lavaram os pés dele, vocês que providenciaram as vontades dele, vocês que se penduraram de seus lábios para captar suas mais doces sentenças, vocês que se sentavam deliciadas com sua poderosa eloqüência; vocês que o chamam de Mestre e Senhor, e fazem bem; “Mas,” disse o serafim, “ele é o meu Senhor também;” inclinando a cabeça, ele gentilmente disse, “Vinde ver onde o nosso Senhor jazia.” Tens então medo Cristão, de pisar dentro daquela tumba? Temes entrar lá, quando o anjo apontou com o dedo e disse, “Venham, iremos juntos, anjos e homens, para ver a câmara real?” vocês sabem que anjos entraram na tumba dele porque sentaram um à sua cabeça e o outro a seus pés em santa meditação. Eu pinto para mim mesmo aqueles luminosos querubins lá sentados conversando entre si. Um deles disse, “era lá que os pés dele ficavam:” e o outro replicou, “e lá as mãos dele, e lá a cabeça;” e em linguagem celestial eles falavam sobre as profundas coisas de Deus: então eles pararam e beijaram o chão de pedra, tornado sagrado para os próprios anjos, não porque ali eles foram redimidos, mas porque ali seu Mestre, seu monarca, cujas mais altas ordens eles estavam obedecendo, tornou-se por um momento escravo da morte, e o cativo da destruição. Venham Cristãos, pois anjos são os porteiros para abrir a porta; venham, porque um querubim é o mensageiro para guiá-los ao lugar da morte. Não, não comecem da entrada; não deixem a escuridão amedrontar vocês; a câmara mortuária não está umedecida com os vapores da morte, nem o ar contém qualquer partícula de contágio. Venham, porque é um lugar puro e saudável. Não temam entrar na tumba. Admito que catacumbas não são os lugares onde quem está cheio de júbilo gostaria de ir. Há alguma coisa de melancólico e deletério quanto a uma câmara sepulcral, tem cheiros insalubres  de corrupção; algumas vezes pestilências nascem onde um defunto esteve; mas não temam Cristãos, porque Cristo não foi deixado no inferno – no Hades – nem o seu corpo viu a corrupção. Venham, não existe cheiro, sim, muito pelo contrário, um perfume. Dê um passo aqui para dentro, e, se você alguma vez respirou os fortes ventos do Ceilão, ou os ventos dos bosques da Arábia, vai achá-los de longe ultrapassados por aquela doce, santa fragrância deixada pelo abençoado corpo de Jesus; aquele vaso de alabastro que antes continha divindade, deixado suave e precioso ali perto. Não pense que encontrará qualquer coisa detestável aos seus sentidos. Corrupção Jesus nunca viu; os vermes jamais devoraram a sua carne; nem podridão jamais entrou em seus ossos; ele não viu a corrupção. Por três dias ele dormitou, mas não o tempo suficiente para putrefazer; ele logo se levantou, perfeito como quando entrou, tão ileso como quando seus membros foram dispostos para o sono. Venham pois, Cristãos, convoquem seus pensamentos, juntem todas suas forças; aqui está um convite agradável, deixe-me pressioná-lo novamente. Deixe-me levá-lo pela mão da meditação, meu irmão; deixe-me pegar você pelo braço da sua imaginação, e deixe-me novamente lhe dizer: “Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia.”
Existe ainda uma outra razão a mais pela qual eu queria ter vocês visitando esse sepulcro – porque é um lugar quieto. Oh! Eu tenho desejado descansar, porque eu tenho ouvido o rumor desse mundo em meus ouvidos por tanto tempo que, eu tenho implorado por

“Um abrigo em algum vasto deserto,
alguma vasta continuidade de sombra,”

onde eu pudesse me esconder para sempre. Eu estou cansado dessa vida penosa e cansativa; meu esqueleto está desgastado, minha alma está louca para repousar por um pouco de tempo. Eu gostaria de deitar-me um pouco à margem de algum riacho forrado de seixos, sem companhia a não ser as belas flores ou os salgueiros arcados. Eu gostaria de poder reclinar na quietude, onde o ar traz alívio à mente atormentada, onde não há murmúrio a não ser o zumbido da abelha, não há cochicho a não ser o do zéfiro, e não há canto a não ser o da cotovia. Eu queria estar sossegado por um momento, eu me tornei um homem do mundo; meu cérebro está em ruína, minha alma está cansada. Oh! Você ficaria quieto Cristão? Mercador, você descansaria da minha exaustão? Vocês ficariam calmos por uma vez? Então venham para este lado. É dentro de um jardim agradável, longe do zunido de Jerusalém; o barulho e o ruído contínuo dos negócios não o alcançarão lá; “Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia.” É um doce lugar de descanso, um lugar retirado para a sua alma, onde você pode escovar a poeira da terra de suas roupas e refletir em paz por um momento. 

II. PEDE-SE ATENÇÃO. Assim eu reforcei o convite; agora nós iremos entrar na tumba. Vamos examiná-la com profunda atenção, tomando nota de cada circunstância a ela ligada.
E primeiro, tome nota que ela é uma tumba de alto preço. Não é uma sepultura comum; não é uma escavação feita com a pá de um paupérrimo, onde esconder os últimos restos de seus miseráveis e super-desgastados ossos. É uma tumba principesca; ela foi feita de mármore cortado das entranhas de uma montanha. Fique de pé aqui, crente, e pergunte por que Jesus teve um sepulcro tão caro. Ele não teve roupas elegantes; ele usava uma túnica sem costura, tecida de cima até em baixo, sem um átomo de bordado. Ele não possuiu palácio suntuoso, porque ele não tinha onde repousar a cabeça. Suas sandálias não eram enriquecidas com ouro nem cravejadas com brilhantes. Ele era pobre. Porque então ele jaz numa sepultura nobre? Nós respondemos, por esta razão: Cristo não foi honrado até que tivesse terminado seus sofrimentos; o corpo de Cristo sofreu injúria, vergonha, foi cuspido, esbofeteado, opróbrio, até ter ele completado a sua grande obra; ele foi calcado aos pés, ele foi “desprezado e rejeitado pelos homens; um varão de dores, acostumado à tristeza;” mas no momento em que ele tinha terminado a sua tarefa, Deus disse, “esse corpo não mais será desgraçado; se é para ele dormir, que ele durma em uma sepultura honorável; se é para ele dormir que sejam nobres a sepultá-lo; que José, o conselheiro, e Nicodemos o homem do Sinédrio, estejam presentes ao funeral; que o corpo seja embalsamado com preciosos perfumes, que ele seja honrado; ele já teve injúrias, vergonha, opróbrio e esbofeteamento o suficiente; que ele agora seja tratado com respeito.” Cristão, você discerne o significado? Jesus, depois de ter terminado a sua obra, dormiu em uma sepultura de alto preço; porque agora o seu Pai que o amava o honrou, posto que sua obra estava terminada. Mas embora seja uma sepultura de alto preço, ela é uma sepultura emprestada. Eu vejo no alto dela, “Consagrada à memória da família de José de Arimatéia;” ainda assim Jesus dormiu ali. Sim, ele foi enterrado no sepulcro de outra pessoa. Ele que não tinha sua própria casa, e descansava nas moradias de outros homens; que não tinha mesa, mas vivia da hospitalidade dos seus discípulos; que emprestou barcos para neles pregar, e não tinha qualquer coisa neste vasto mundo, foi obrigado ter uma tumba de caridade. Oh! Os pobres não tomariam coragem? Eles temiam ser enterrados às custas dos seus vizinhos, mas se a pobreza deles era inevitável, porque então deviam eles se ruborizarem, uma vez que o próprio Jesus foi enterrado em sepultura alheia? Ah! Eu gostaria se pudesse ter tido a sepultura de José para deixar Jesus ser enterrado nela. O bom José pensou que a tivesse cavado para si mesmo, e que ele deitaria ali os seus ossos. Ele a tinha escavado como uma câmara mortuária para a família, e veja, o Filho de Davi faz dela uma das tumbas dos reis. Mas ele não a perdeu ao emprestá-la ao Senhor; mais ainda, ele a teve de volta com juros preciosos. Ele a emprestou apenas por três dias; e então Cristo a resignou; ele não a havia danificado, mas perfumado e santificado, e a tornado muito mais santa, de  maneira que seria uma honra para o futuro ser enterrado ali. Era uma tumba emprestada; e por quê? Eu tomo isso como sendo não para desonrar a Cristo, mas para mostrar que, como os pecados dele eram pecados emprestados, então o seu enterro foi em uma sepultura emprestada. Cristo não tinha transgressões dele mesmo; ele tomou as nossas sobre a sua cabeça; ele nunca cometeu um erro, mas tomou todos os meus pecados, e todos os seus, se vocês são crentes; no que concerne a todo o seu povo, é verdade, ele levou sobre si as nossas dores e carregou com as nossas tristezas em seu próprio corpo no madeiro; portanto, como eles eram pecados dos outros, então ele descansou na sepultura de outra pessoa; como eles eram pecados imputados, então aquela sepultura foi apenas imputada como sendo dele. Não era o sepulcro dele; era a tumba de José.
Não vamos nos cansar nessa pia investigação, mas com a atenção fixada vamos observar qualquer coisa nesse santo lugar. A sepultura, observamos, foi escavada em uma rocha. Porque isso? A Rocha Eterna foi sepultada em uma rocha – uma Rocha dentro de uma rocha. Mas por quê? A maioria das pessoas sugere que assim foi ordenado, para que pudesse ficar claro que não havia uma maneira dissimulada pela qual os discípulos ou outros pudessem entrar e roubar o corpo levando embora. Muito possivelmente essa era a razão; mas Oh! minha alma, não pode você encontrar uma razão espiritual? O sepulcro de Cristo foi escavado em uma rocha. Não foi cortado de modo que pudesse ser deformado pela água, ou pudesse se desagregar e entrar em decadência. O sepulcro permanece, eu creio, inteiro até hoje; se não perdura naturalmente, perdura espiritualmente. O mesmo sepulcro que levou os pecados de Paulo, levará as minhas iniqüidades em seu âmago, porque se algum dia eu perder minha culpa, eu tenho que livrar os meus ombros dos fardos no sepulcro. Ele foi cortado em uma rocha, de modo que se um pecador fosse salvo mil anos atrás, eu também posso ser libertado, porque é um sepulcro rochoso onde o pecado foi enterrado – era em um sepulcro de mármore onde meus crimes foram dispostos para sempre – enterrados para nunca terem ressurreição.
Eu vou enfatizar, além do mais, que aquela tumba era uma onde nenhum homem tinha ainda sido sepultado. Christofer Ness diz que, quando Cristo nasceu, ele se deitou no ventre de uma virgem, e quando ele morreu foi colocado em uma tumba virgem; ele dormiu onde nenhum homem tinha dormido antes. A razão era que ninguém poderia dizer que outra pessoa se levantou, porque nunca tinha estado qualquer outro corpo ali; assim, um erro de pessoas era impossível. Nem poderia ser dito que algum antigo profeta estava enterrado no lugar, e que Cristo se levantou por ter tocado seus ossos. Vocês se lembram de onde Elizeu foi enterrado; e quando eles estavam enterrando um homem, eis que ele tocou os ossos do profeta e se levantou. Cristo não tocou em ossos de profeta, porque nenhum jamais tinha dormido ali; era uma câmara nova onde o monarca da Terra teve o seu descanso por três dias e três noites.
Nós temos aprendido um pouco, então, com atenção; mas vamos inclinar a cabeça uma vez mais antes de sairmos da sepultura, e notar alguma outra  coisa. Nós vemos a sepultura, mas vocês notam as roupas da sepultura, todas enroladas e postas em seus lugares, o lenço sendo dobrado por si mesmo? Porque motivo estão as roupas da sepultura enroladas? Os Judeus disseram que ladrões tinham subtraído o corpo; mas se assim fosse, certamente eles teriam roubado as roupas; eles nunca teriam pensado em as enrolar e pô-las no chão tão cuidadosamente; eles estariam com muita pressa para pensar nisso. Porque isso então? Para manifestar a nós que Cristo não veio de uma maneira apressada. Ele dormiu até o último momento; então ele acordou; ele não veio com pressa. Eles não virão apressadamente, nem voando, mas no momento determinado seu povo virá a ele. Portanto na hora precisa, no instante decretado, Jesus Cristo languidamente se acordou, se desfez dos lençóis da mortalha, deixou todos para trás de si, e veio para fora em sua pura e nua inocência, talvez para nos mostrar como as roupas eram o fruto do pecado – quando o pecado foi expiado por Cristo, ele deixou todo o vestuário atrás de si – porque roupas são o emblema da culpa: se não fossemos culpados nunca teríamos precisado delas.
Então o lenço, vocês tomem nota, foi deitado por si mesmo. As roupas de sepultura foram deixadas para que qualquer Cristão que falecesse as pudesse usar. A cama da morte está bem forrada com as roupas de Jesus, mas o lenço estava dobrado por si, porque o Cristão quando morre, não precisa disso; ele é usado pelos enlutados, e somente pelos enlutados. Todos nós vamos usar mortalhas, mas não vamos precisar do lenço. Quando nossos amigos morrem, o lenço é deixado ao lado para o nosso uso; mas os nossos irmãos e irmãs que já partiram usam lenço? Não; o Senhor Deus enxugou de seus olhos toda a lágrima. Nós ficamos de pé e vemos os corpos de nossos queridos que partiram, nós molhamos as faces deles com as nossas lágrimas, deixando chuvas inteiras de tristeza cair sobre suas cabeças; mas e eles choram? Ah! Não. Pudessem eles falar a nós lá das altas esferas, diriam: “Não chore por mim, porque eu estou glorificado. Não se entristeça por mim; eu deixei um mundo mau atrás de mim, e entrei em um muito melhor.” Eles não têm lenço – eles não choram. Estranho é que aqueles que enfrentam a morte não chorem; mas aqueles que os vêm partir sim. Quando a criança nasce ela chora enquanto outros riem, (dizem os Árabes), e quando ela morre ela ri enquanto os outros choram. Assim é com o Cristão. Oh! que coisa abençoada! O lenço deixado por ele mesmo, porque os Cristãos nunca vão querer usar um quando morrerem.

III. Emoção excitada. Assim temos observado a sepultura com profunda atenção, e espero, com algum proveito para nós próprios. Mas isso não é tudo. Eu amo uma religião que consiste, em uma grande medida, de emoção. Agora, se eu tivesse o poder, como um mestre, eu tocaria as cordas de seus corações, e extrairia deles um tom glorioso de música solene, porque esse é um lugar profundamente solene ao qual eu vos tenho conduzido.
Primeiro, eu lhes diria para ficar de pé e ver o lugar onde o Senhor jazia com emoções de profunda tristeza. Oh! vinde, meu amado irmão, teu Jesus uma vez esteve deitado ali. Ele foi um homem assassinado, minha alma, e você o assassino.

“Ah, vocês meus pecados, meus cruéis pecados,
Seus principais tormentos eram,
Cada crime meu tornou-se um cravo,
E a descrença a lança.”
“Ai! E o meu Salvador sangrou?
E o meu Soberano morreu?”

Eu o matei – essa mão direita golpeou o punhal ao seu coração. Minhas obras mataram Cristo. Ai! Eu matei meu mais bem amado; eu matei aquele que me amava com amor perpétuo. Vossos olhos, porque vocês se recusam a chorar quando vêm o corpo de Jesus lacerado e mutilado? Oh! daí vazão a sua tristeza, Cristãos, porque vocês têm boa razão para assim se comportar. Eu acredito no que Hart diz, que houve um tempo em sua experiência, quando ele podia simpatizar tanto com Cristo, que ele sentia mais tristeza na morte de Cristo do que regozijo. Parecia uma coisa tão triste que Cristo tivesse que morrer; e para mim seguidamente parece um preço muito alto para Jesus Cristo comprar vermes com o seu próprio sangue. Eu penso que o amo tanto que se o tivesse visto a beira do sofrimento eu seria tão mau como Pedro e teria dito, “Longe de ti Senhor;” mas então ele teria me dito, “Para traz de mim Satanás”, porque ele não aprovava o amor que o desviasse da morte. “A taça que meu pai me deu, não a beberei eu?” mas eu penso, que se o tivesse visto indo para a cruz, eu podia contente tê-lo pressionado a voltar e dito, “Oh! Jesus, tu não vais morrer; eu não posso com isso. Vais comprar a minha vida tão caro?” Parece muito custoso para ele que é o Príncipe da Vida e da Glória deixar seus belos membros serem torturados em agonia; que as mãos que carregaram misericórdias pudessem ser traspassadas por pregos amaldiçoados; que as têmporas que sempre foram cobertas com amor tivessem espinhos da crueldade atravessados nelas. Parece muito. Oh! Chorem Cristãos, e deixem a sua tristeza crescer. Não é o preço tudo, menos grande demais, que o seu bem amado se entregasse a si mesmo por você? Oh! eu pensaria, se uma pessoa fosse salva da morte por outra, ele sempre sentiria profunda tristeza se seu salvador perdesse a vida na tentativa. Eu tinha um amigo, que, de pé ao lado de uma porção de água gelada, viu um rapaz se batendo nela, e pulou por cima do gelo para salva-lo. Depois que agarrou o menino, ele o levantou nas mãos e gritou, “Ele está aqui! Ele está aqui! Eu o salvei.” Mas, no que eles pegaram o menino, ele próprio afundou, e seu corpo foi achado algum tempo depois, quando já estava morto. Oh! é assim com Jesus. Minha alma estava se afogando. Dos altos portões dos céus ele me viu afundando nas profundezas do inferno; ele mergulhou lá dentro:

“Ele afundou debaixo das suas pesadas mágoas,
Para me levantar a uma coroa;
Nunca existe uma dádiva que sua mão concede,
Que não tenha custado ao seu coração um gemido.”

Ah! Nós podemos certamente lamentar o nosso pecado, uma vez que ele matou Jesus.
Agora Cristãos, mudem sua percepção por um momento. “Vinde ver o lugar onde o Senhor jazia,” com regozijo e alegria. Ele não está deitado lá agora. Chorem, quando vocês virem a tumba de Cristo, mas se alegrem porque ela está vazia. Seu pecado o matou, mas a divindade dele o levantou. Sua culpa o assassinou, mas a justiça dele o restaurou. Oh! ele tinha destruído os grilhões da morte, ele tinha retirado as vestimentas da sepultura, e tinha vindo para fora mais que conquistador, calcando a morte a seus pés. Regozijai-vos, Oh Cristãos, porque ele não está lá – ele se levantou.

“Vinde ver onde o Senhor Jazia.”

Mais um pensamento, e então eu vou falar um pouco sobre as doutrinas que nós podemos aprender a partir dessa sepultura. “Vinde ver o lugar onde o Senhor Jazia”, com solene reverência de sua parte e eu terei que deitar lá também.

“Atenção! Da tumba um lúgubre som,
Meus ouvidos, atendem o grito,
Vocês homens viventes, venham ver o chão
Onde ele deve por pouco ter deitado.”
Príncipes, esse barro deve ser as vossas camas,
Apesar de todos os vossos poderes.
A alta, a sábia, a reverenda cabeça,
Tem que deitar tão baixo quanto as nossas.”

É um fato sobre o qual nós nem sempre pensamos, que todos nós estaremos mortos em pouco tempo. Eu sei que sou feito de pó, e não de ferro; meus ossos não são de bronze, nem meus tendões são de aço; em curto tempo meu corpo deve se desintegrar de volta aos seus elementos naturais. Mas alguma vez você tenta retratar para você mesmo o momento da sua desintegração? Meus amigos, existem alguns de vocês que raramente se dão conta do quanto são velhos, quão próximos estão da morte. Uma maneira de lembrar a nossa idade é ver quanto está sobrando. Pense o quanto é ser velho aos oitenta, e então veja quão poucos anos existem antes que você chegue lá. Devemos pensar na nossa fragilidade. Às vezes eu tenho tentado pensar sobre a hora da minha partida. Eu não sei se vou morrer uma morte violenta ou não; eu pediria a Deus que pudesse morrer de repente; porque morte repentina é glória repentina. Eu gostaria de poder ter uma saída abençoada como a do Dr. Beaumont, e morrer em meu púlpito baixando  meu corpo com o meu cargo, e cessando imediatamente de trabalhar e de viver. Mas a escolha não é minha. Suponham que eu fique deitado demorando semanas, em meio a dores, tristezas e agonias; quando aquele momento chega, aquele momento que é solene demais para os meus lábios falarem dele, quando o espírito deixa o barro – deixe o médico adiar por semanas, como nós dizemos que ele faz, mesmo que ele não faça – quando aquele momento chega, os seus lábios, estejam mudos, e não profanem sua solenidade. Quando a morte chega, como o homem forte é curvado! Como o homem poderoso cai! Eles podem dizer que não vão morrer, mas não há esperança para eles; eles têm que se render, a flecha atingiu seu destino. Eu conheci um homem que era um perverso vilão, e eu me lembro vendo-o pisando o soalho do seu quarto dizendo, “Oh! Deus, eu não vou morrer, eu não vou morrer.” Quando eu implorei a ele que deitasse sobre a cama, porque ele estava morrendo, ele disse que não podia morrer enquanto pudesse andar, e ele ia andar até que morresse. Ah! Ele morreu em extremo tormento, sempre gritando, “Oh Deus, eu não vou morrer.” Oh! Aquele momento, o último momento. Veja quão frio e úmido é o suor sobre a testa, como seca a língua, como partem os lábios. O homem fecha os seus olhos e adormece, então abre novamente: e se ele for um Cristão, eu posso imaginar o que ele vai dizer:

“Atenção! Eles sussurram: anjos dizem,
Alma irmã, venha embora.
O que é isso que tanto me absorve –
Rouba os meus sentidos – fecha a minha vista –
Alarga meu espírito – tira meu fôlego?
Diga-me minha alma, pode isso ser a morte?”

Nós não sabemos quando ele está morrendo. Uma visão gentil e o espírito se vai. Mal podemos dizer, “ele se foi,” antes que o espírito resgatado se aposse de sua mansão junto ao trono. Venham à tumba de Cristo então, porque a silenciosa sepultura breve deverá ser a sua habitação. Venham à tumba de Cristo, porque vocês precisam dormir lá. E mesmo a vocês, os pecadores, por um momento eu vou pedir que venham também, porque vocês devem morrer, bem como o resto de nós. Seus pecados não podem guardá-los das presas afiadas da morte. Eu digo, pecador, eu quero que também você olhe para o sepultura de Cristo, porque quando você morrer pode ter-lhe feito grande bem pensar nela. Você ouviu falar da Rainha Elizabeth I, dizendo aos prantos que daria um império em troca de apenas uma hora. Ou você ouviu o grito desesperado do cavalheiro a bordo do “Arctic”, quando ele estava afundando, ele gritou para o escaler  “Volte! Eu lhes darei trinta mil Libras se vocês voltarem para me buscar”. Ah! Pobre homem, seria pouco se ele tivesse trinta mil mundos, se ele com isso pudesse salvar a sua vida: “pele por pele, sim tudo que um homem tem, ele dará pela sua vida”. Alguns de vocês podem rir nessa manhã, quem veio passar uma hora alegre nesse recinto, vão morrer, então vocês vão orar e suplicar pela vida, e clamar por um outro dia de domingo. Oh! Como os domingos que vocês desperdiçaram andarão como fantasmas diante de vocês! Oh! Como eles balançarão seus cabelos de serpentes nos seus olhos! Como vocês serão obrigados a sentir tristeza e chorar, porque perderam preciosas horas, as quais, quando já se foram, foram para longe de mais para serem recuperadas. Possa Deus salvá-los da angústia do remorso.

IV. INSTRUÇÃO CONCEDIDA. E agora irmãos em Cristo, “Vinde ver o lugar onde ele jazia”, para aprender uma ou duas doutrinas. O que vocês viram quando visitaram “o lugar onde o Senhor jazia”? “Ele não está aqui; mas já ressuscitou.” A primeira coisa que vocês percebem, se vocês ficarem de pé junto a essa tumba vazia, é a divindade dele. Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro na ressurreição: mas foi ele quem ressuscitou primeiro – o líder deles ressuscitou de um modo diferente. Eles ressuscitam através de poder concedido. Ele ressuscitou pelo seu próprio poder. Ele não podia dormir na sepultura, porque ele era Deus. A morte não tinha mais domínio sobre ele. Não existe melhor prova da divindade de Cristo que aquela sua surpreendente ressurreição, quando ele se levantou da sepultura, pela glória do P

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