O Louvor Negligenciado (Sermão 1935) - C. H. Spurgeon

Onde estão os Nove?

(Noite de quinta-feira, 7 de outubro de 1886.)

Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano. Jesus perguntou: "Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?". Então ele lhe disse: "Levante-se e vá; a sua fé o salvou" (Lc 17.15-19).

Vocês ouviram muitas vezes descrições da lepra: uma doença horrível, considero-a a pior à qual a carne pode ser sujeitada. Devemos ser mais que gratos por essa doença cruel ser pouco conhecida em nosso país favorecido. Vocês também ouviram dizer que símbolo instrutivo ela é, na carne humana, do que o pecado faz na alma do homem, como ela polui, como destrói. Não preciso aprofundar-me nesse assunto triste. Mas aqui surgiu uma visão e tanto diante do Salvador: dez leprosos! Uma grande massa de tristeza! Que visão nosso Senhor tem todos os dias deste mundo poluído pelo pecado! Não dez pecadores, nem mesmo de dez milhões deles; nesta terra existem milhares de milhares de pessoas doentes na alma. É um milagre da condescendência o Filho de Deus ter colocado os pés em uma casa de lazarentos como esta.

Observe, porém, a graça triunfante do Senhor Jesus para com os dez leprosos. Curar um só leproso faria a fortuna de alguém, e coroaria sua vida com fama perpétua: mas o Senhor curou dez leprosos de uma só vez. Ele é fonte de graça transbordante, e distribui seu favor tão liberalmente, que ordena aos dez irem se mostrar aos sacerdotes como pessoas curadas, e no caminho até o sacerdote, perceberam que estavam curados. Ninguém entre nós pode imaginar o júbilo sentido ao perceber a cura. Oh, deve ter sido uma espécie de novo nascimento quando descobriram a renovação da carne, a ponto de ser como a de uma criancinha! Não teria sido de admirar se todos os dez tivessem se apressado para voltar a Jesus, prostrar-se a seus pés, e erguer a voz em um salmo décuplo. A triste verdade no caso é que nove deles, apesar de terem sido curados, continuaram a caminhada até o sacerdote do modo mais calmo possível: nunca ouvi- mos falar de seu retorno; desaparecem totalmente da narrativa. Obtiveram a bênção, saíram caminhando: fim da história deles.

Somente um, o samaritano, voltou para expressar gratidão. A desgraça aglomera muitos companheiros estranhos; e assim os nove leprosos da descendência de Israel conviviam com o samaritano marginalizado; e ele, por estranho que pareça, foi o único que, tomado do impulso repentino de gratidão, caminhou até o Benfeitor, prostrou-se a seus pés, e começou a glorificar a Deus.

Se você procurar no mundo inteiro, entre todas as especiarias, raramente encontrará o olíbano da gratidão. Deveria ser tão comum quanto as gotas de orvalho encontradas nas sebes de manhã cedo; mas, infelizmente, o mundo está seco por falta de gratidão a Deus! A gratidão a Cristo era bastante rara mesmo quando ele vivia na terra. Quase teria dito que as chances eram dez contra uma, de que ninguém o louvaria; mas preciso me corrigir um pouco: eram nove contra uma. Um dia entre sete é reservado para a adoração ao Senhor; mas nem um homem em dez se dedica a seu louvor. Nosso assunto é a gratidão ao Senhor Jesus Cristo.

I. Começo com o tema que já mencionei, que é a singularidade da gratidão.

Notemos aqui: existem mais pessoas que recebem benefícios que quem chega a dar louvor por eles. Nove pessoas curadas, mais uma que glorifica a Deus; nove pessoas curadas da lepra, vejam bem, e uma única pessoa que se ajoelha aos pés de Jesus e lhe rende graças por isso! Se, por causa deste benefício sublime, que poderia ter levado os mudos a cantar, as pessoas agradecem a Deus na proporção de uma por nove, o que direi das misericórdias chamadas comuns — comuns porque Deus é muitíssimo generoso, visto que cada uma delas é de valor inestimável? Vida, saúde, visão, audição, amor no lar, continuidade das amizades — não posso tentar alistar todos os benefícios recebidos dia após dia; mesmo assim, existe um só homem que louva a Deus por eles, e nove não o louvam? Tudo o que se diz é "Graças a Deus!", com frieza. Outros realmente o louvam por esses benefícios, mas que louvor fraco! O hino do dr. Watts é tristemente verdadeiro:

Os hosanas ficam lerdos nas nossas línguas,
E nossa devoção morre.

Não louvamos ao Senhor de modo digno, proporcional, intenso. Recebemos um continente de misericórdias, e só devolvemos uma ilha de louvores. Ele nos dá bênçãos novas todas as manhãs, e recentes todas as tardes — grande é a sua fidelidade; no entanto, deixamos os anos passar, e raras vezes observamos um dia de louvor. E triste ver que, sendo Deus inteiramente bondade, o homem é totalmente ingratidão! A tribo que recebe benefícios pode dizer: "Meu nome é legião"; mas quem louva a Deus é tão pouco que uma criança pode somá-los.

Existe, porém, algo mais notável que isso: o número dos que oram é maior que o número dos que louvam. Afinal, os dez leprosos oraram. Por pobres e fracas que suas vozes tivessem se tornado por causa da enfermidade, levantaram-nas em oração, e se uniram nos gritos: "Jesus, Mestre, tem piedade de nós!". Todos acompanha¬vam a litania: "Senhor, tem misericórdia de nós! Cristo, tem misericórdia de nós!". Mas quando chegaram ao Te Deum, de engrandecer e louvar a Deus, só um deles foi entoando a música. Teríamos pensado que todos os que oraram também louvariam, mas não foi assim. Ocorreram casos de toda a tripulação de um navio ter orado na hora da tempestade, porém nenhum dos marinheiros cantou louvores a Deus depois de a tempestade se acalmar. Multidões de concidadãos oram quando estão enfermos, próximos da morte; mas quando saram, seus louvores ficam mortalmente doentes. O anjo da misericórdia, escutando diante da porta deles, não ouve nenhum cântico de amor, nenhuma canção de gratidão. Infelizmente, a verdade é triste demais: mais pessoas oram que louvam!

Coloco a questão de outra forma para vocês do povo de Deus — a maioria de nós ora mais do que louva. Receio que vocês orem pouco; mas o louvor, onde está? Nos cultos domésticos, sempre oramos, mas raras vezes louvamos. Oramos constantemente no quarto, mas será que louvamos freqüentemente? A oração não é um exercício tão celestial quanto o louvor; a oração é para o tempo, mas o louvor é para a eternidade. O louvor, portanto, merece o primeiro lugar, o de maior proeminência; não é verdade? Comecemos a atividade que ocupa os seres nos céus. A oração é para o mendigo; mas acho que é péssimo o mendigo que não louva, também, ao receber esmola. O louvor deve naturalmente se seguir à oração, mesmo que não a anteceda, pela graça divina. Se você estiver aflito, se perder dinheiro, se cair na pobreza, se o filho estiver doente, se alguma forma de castigo o visitar, você começa a orar, e não o culpo por isso; mas deve ser apenas oração e nada de louvor? A vida deveria ter tanto sal, e tão pouco doce? Devemos beber profundamente, em muitas ocasiões, da rocha da bênção, e tão raramente derramar uma libação diante do Senhor Altíssimo? Venha, repreendamo-nos por oferecermos mais oração que louvor!

No mesmo assunto, deixe-me observar que mais pessoas obedecem ao ritual que as que louvam a Cristo. Quando Jesus disse: "Vão mostrar-se aos sacerdotes", lá se foram, todos os dez; nenhum dele ficou esperando. Mas somente um deles voltou para contemplar o Salvador pessoal, e louvar seu nome. Assim também hoje — vocês freqüentam uma igreja, uma capela, lêem um livro, cumprem um ato religioso exterior: mas quão pouco louvor a Deus, quão pouco tempo diante dos seus pés, quão pouco sentimento de podermos gastar a alma inteira cantando de gratidão àquele que tão grandes coisas fez por nós! Exercícios religiosos externos são bastante fáceis, e bastante comuns; mas a parte interna, do coração que se estende em grato amor, que coisa rara ela é! Nove obedecem aos rituais, ao passo que somente um louvou o Senhor.

E ainda, para a aplicação nos alcançar mais de perto: existem mais pessoas que crêem do que quem louva: pois esses dez homens creram, mas somente um louvou o Senhor Jesus. Sua fé dizia respeito à lepra, e segundo sua fé lhes foi feito. Essa fé, embora só dissesse respeito à lepra, não deixou de ser muito maravilho¬sa. Era notável acreditar no Senhor Jesus, embora sequer tenha dito: "Sejam curados", ou outra coisa no mesmo sentido; ele simplesmente afirmou: "Vão mostrar-se aos sacerdotes". Com a pele ressequida, e a morte cauterizando o caminho para o interior do coração, foram caminhando com coragem, confiantes de que Jesus por certo pretendia abençoá-los. Era fé admirável; porém nenhum dos nove que assim creu voltou para louvar a Cristo pela misericórdia recebida. Lastimo que, embora haja muita fé, fé melhor que a daqueles, fé que respeita as coisas espirituais, ainda lhes falta florescer na gratidão espiritual. Talvez floresça perto do fim do ano, como o crisântemo; mas certamente não floresceu na primavera, como a prímula e o narciso. É fé que produz poucas flores de louvor. As vezes me repreendo porque, tendo lutado com Deus na oração — como Elias no monte Carmelo —, não engrandeci o nome do Senhor como Maria de Nazaré o fez. Não louvamos o Senhor de modo proporcional aos benefícios recebidos. A tesouraria de Deus transbordaria se o tributo do louvor fosse pago com mais honestidade. Não haveria necessidade de implorar dinheiro para missões, e de animar o povo de Deus para a contribuição abnegada, se existisse louvor um pouco mais proporcional à fé. Cremos ter recebido o céu e a eternidade, e ainda não engrandecemos o Senhor devidamente pela terra e pelo tempo. A fé é genuína, espero, não me compete julgá-la, é falha nos seus resultados. Nos leprosos, a fé era real no que dizia respeito à lepra; não acreditaram na divindade do Senhor, nem creram para a vida eterna. Também entre nós existem os que obtêm benefícios da parte de Cristo, que até mesmo esperam que estejam salvos, mas não o louvam. Sua vida é dedicada a examinar a própria pele para ver se a lepra desapareceu. Sua vida religiosa revela-se no escrutinar constante de si mesmos para ver se estão realmente curados. Essa não é uma boa maneira de gastar energia. Esse homem sabia da cura, tinha plena certeza disso; e o impulso imediato do seu espírito era voltar ao lugar onde estava Aquele que fora seu Médico glorioso, cair-lhe aos pés, e louvá-Lo em alta voz, glorificando a Deus. Quem dera todos os meus ouvintes, medrosos e cheios de dúvidas, fizessem o mesmo!

Já falei o bastante, penso, a respeito da escassez de ações de graças. Repassemos esses temas. Existem mais pessoas que recebem benefícios que quem louva a Deus por eles; alguns oram mais que louvam; mais pessoas seguem os rituais que louvam a Deus de coração; e mais pessoas crêem, e recebem benefícios mediante a fé, que quem louvam devidamente o Doador dos benefícios.

II. Tenho muita coisa para dizer, e pouco tempo para fazê-lo; portanto, de modo breve, notemos as características da verdadeira gratidão. A ação simples desse homem pode demonstrar o caráter do louvor. Porém o mesmo formato não se aplica a todas as pessoas. O amor a Cristo, como flores vivas, recebe muitas formas; somente as flores artificiais são iguais. O louvor vivo é marcado pela individualidade. Esse homem era membro de um grupo de dez pessoas quando leproso; estava totalmente sozinho quando voltou para louvar a Deus. Você pode pecar em grupo, ir ao inferno com ele; mas quando obtiver a salvação, chegará a Jesus sozinho; quando for salvo, embora se deleitará em louvar a Deus com outros, caso se juntem a você, mas, caso não queiram, você se deleitará em cantar um solo de gratidão. Esse homem abandonou o convívio com os outros nove, e foi até Jesus. Se Cristo o salvou, e seu coração está certo, você dirá: "Preciso louvá-lo; preciso amá-lo". Você não será impedido pela condição gélida de nove entre dez dos antigos companheiros, nem pelo mundanismo dos familiares, nem pela frieza da igreja. Seu amor pessoal a Jesus o levará a falar, ainda que o céu, a terra e o mar estejam envoltos em silêncio.

Você tem um coração que arde com amor adorador, e sente como se esse fosse o único coração debaixo do sol que contivesse amor a Cristo; portanto, você alimente a chama celestial. Satisfaça os desejos desse coração, e expresse seus anseios; o fogo está nos seus ossos, e deve ter livre curso. Visto que o verdadeiro louvor tem individualidade; venham, irmãos em Cristo, louvemos a Deus, cada um a seu modo!

Que o tema doce e bem-aventurado,
Encha cada coração e língua,
Até os de fora amarem teu nome encantador,
E acompanhem o cântico sagrado!

A próxima característica da gratidão desse homem era a prontidão. Ele voltou a Cristo quase imediatamente; não posso imaginar que o Salvador se detivesse na porta da aldeia muitas horas naquele dia. Estava ocupado demais para passar muito tempo em uma só localidade: o Mestre andava em redor fazendo o bem. O homem estava de volta sem demora; e quando você for salvo, quanto mais rápido puder expressar gratidão, melhor. Dizem que os pensamentos reconsiderados são os melhores; mas não é o caso quando o coração está cheio de amor a Cristo. Ponha em prática os primeiros pensamentos; não pare para a reconsideração, a não ser que o coração esteja em chamas com a devoção celestial a ponto de a reconsideração consumir os primeiros. Vá de imediato, e louve o Salvador. Que grandes desígnios alguns de vocês formaram no tocante aos serviços a serem prestados a Deus no futuro! Que resultados pequenos se seguiram! Ah, é melhor deitar um só tijolo hoje que ter o propósito de edificar um palácio no ano seguinte! Engrandeça o seu Senhor no tempo presente, pela salvação presente. Por que as misericórdias divinas precisam ficar em quarentena? Por que seus louvores serão como aloés, que demoram um século para florescer? Por que o louvor deve esperar fora da porta, mesmo por uma única noite? O maná chegou fresco de manhã; assim também, que seus louvores se levantem bem cedo. Quem louva de imediato, louva duas vezes; mas o que não louva de imediato, nunca chega a louvar.

A qualidade seguinte do louvor desse homem foi a espiritualidade. Percebemos isso na pausa que fez no caminho aos sacerdotes. Era seu dever ir aos sacerdotes; recebera a ordem de fazer assim; mas existe proporção em todas as coisas, e alguns deveres são maiores que outros. Ele pensou consigo: fui ordenado ir aos sacerdotes; mas estou curado, e essa nova circunstância afeta a ordem dos meus deveres: a primeira coisa que devo fazer é voltar, e dar testemunho ao povo, e glorificar a Deus no meio de todos, e prostrar-me aos pés de Cristo. E bom observar a santa lei da proporção. A mente carnal coloca o dever ritualista em primeiro lugar; com ela, o aspecto externo se sobrepõe ao espiritual. Mas o amor não demora a perceber que a substância é mais preciosa que a sombra, e prostrar-se aos pés do grande Sumo Sacerdote deve ser maior do que comparecer diante dos sacerdotes menores. Por isso, o leproso curado foi primeiramente a Jesus. Para ele, o aspecto espiritual sobrepujava o cerimonial. Considerava seu dever principal adorar pessoalmente o Salvador divino que o livrara da enfermidade cruel. Vamos para Jesus, em primeiro lugar. Em espírito, curvemo-nos diante dele. Ah, sim! Venham aos cultos, participem da adoração regular; mas se vocês amarem o Senhor, desejarão fazer algo mais: ansiarão chegar até o próprio Jesus para lhe contar o tanto quanto o amam. Desejarão fazer por conta própria algo por ele, alguma coisa para demonstrar a gratidão do coração ao Cristo de Deus.

A verdadeira gratidão também se manifesta na intensidade. A intensidade é perceptível neste caso: ele voltou, louvando a Deus em alta voz. Ele poderia ter louvado, não é verdade, de modo mais quieto. Sim, mas quando acaba de ser curado da lepra, e sua voz, antes tão fraca, lhe é restaurada, não consegue reduzir seus louvores a um sussurro. Irmãos, vocês sabem que seria impossível alguém se manter friamente nos limites sociais quando acaba de ser salvo! Esse homem, com voz alta, glorificou a Deus; e você, também se sente forçado a exclamar:

Eu queria soá-lo tão alto
Que a terra e o céu ouvissem.

Alguns dos nossos convertidos às vezes ficam muito entusiasmados e impetuosos. Não os culpem. Por que não lhes permitir essa liberdade? Não fará mal a vocês. Todos nós somos tão corretos e ordeiros que podemos nos dar o luxo de ter alguém se extravasando entre nós de vez em quando. Que Deus nos envie mais pessoas desse tipo para despertar a igreja, a fim de que nós também comecemos a louvar a Deus com coração e voz, corpo e alma, e com todas as forças! Aleluia! Meu coração sente o fulgor!

Além disso, na verdadeira gratidão existe humildade. Esse homem prostrou-se aos pés de Jesus: não se considerava no lugar certo antes de deitar ali. Parecia dizer: "Sou ninguém, Senhor", e por isso se prostrou sobre o rosto. Mas o lugar da prostração foi "aos pés de Jesus". Eu preferiria ser ninguém aos pés de Jesus que ser tudo em outro lugar! Não existe lugar tão honroso como lá embaixo, aos pés de Jesus. Quem dera fica deitado ali sempre, e só amá-lo totalmente, e deixar o egoísmo acabar-se! Quem dera ter Cristo em pé, acima de você, como a única pessoa que lhe lança sombra, agora e para sempre! A verdadeira gratidão se curva profundamente diante do Senhor.

Acrescido a isso havia adoração. Ele se prostrou aos pés de Jesus, glorificando a Deus, e lhe dando graças. Adoremos o nosso Salvador. Que os outros pen¬sem o que quiserem a respeito de Jesus, nós colocaremos o dedo na marca dos pregos, e diremos: "Senhor meu e Deus meu!". Se Deus existe, para nós Deus está em Cristo Jesus. Nunca cessaremos de adorar o que comprovou sua Divindade ao libertar-nos da lepra do pecado. Seja prestada toda a adoração à sua majestade suprema!

Mais uma coisa que quero ressaltar a respeito desse homem, quanto à sua gratidão, é o silêncio quanto a censura dos outros. Quando o Salvador perguntou: "Onde estão os outros nove?", noto que esse homem não respondeu. O Mestre disse: "Onde estão os nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?". Mas o adorador estrangeiro não se levantou para dizer: "Ó Senhor, todos foram embora, até os sacerdotes: fico atônito com eles porque não voltaram para te louvar!". O irmãos, temos muita coisa para fazer, cuidando dos próprios deveres, quando sentimos a graça de Deus no próprio coração! Se eu conseguir dar conta do meu dever de louvar, não sentirei ânimo para acusar os ingratos entre vocês. O Mestre diz: "Onde estão os outros nove?", mas o pobre homem curado, diante dos pés dele, não tem palavra para dizer contra os nove cruéis, por estar demasiadamente ocupado com a adoração pessoal.

III. Não conclui nem a metade, mas vocês não podem ficar aqui além do horário marcado para o encerramento; por isso, preciso compactar minha terceira divisão em um espaço tão breve quanto possível: consideremos a bem-aventurança da gratidão. Esse homem foi muito mais abençoado que os outros nove. Eles foram curados, mas não abençoados como este. Há grande bem-aventurança na gratidão.

Primeiro, porque é certo. Cristo não deve ser louvado? Esse homem fez o que podia; e sempre há alívio de consciência, e repouso de espírito, quando sentimos fazer tudo o que podemos por uma causa, ainda que fiquemos muito aquém do desejado. Nesse momento, meus irmãos, engrandeçam o Senhor.

E adequado e justo cantar,
Em todo tempo e lugar,
Glória ao nosso Rei celestial,
Deus da verdade e da graça.
Juntos, pois, com doces acordes
Entoemos nossa gratidão!
Santo, santo, santo Senhor,
Louvor eterno te seja dado.

Além disso, existe esta bênção na gratidão: a manifestação do amor pessoal. Amo as doutrinas da graça, amo a igreja de Deus, amo o dia do Senhor, amo as ordenanças; mas amo a Jesus acima de tudo. Meu coração não fica tranqüilo antes de eu poder glorificar a Deus pessoalmente, e dar graças a Cristo pessoalmente. Expressar o amor pessoal a Cristo é uma das coisas mais doces neste lado do céu; e a melhor maneira de expressar o amor pessoal é pela gratidão pessoal, proveniente do coração e da boca, e na prática e nas ações.

Existe outra bem-aventurança na gratidão: enxergar bem. O olho agradecido vê longe e de forma profunda. O homem curado da lepra, antes de continuar a glorificar a Deus, deu graças a Jesus. Se ele tivesse agradecido a Jesus, e parado aí, eu teria dito que seus olhos não ficaram bem abertos; mas quando viu Deus em Cristo, e por isso glorificou a Deus pelo que Cristo tinha feito, demonstrou profundo discernimento da verdade espiritual. Começara a descobrir os mistéri¬os da pessoa divina e humana do bendito Senhor. Aprendemos muito por meio da oração. Lutero disse: "Orar bem é estudar bem". Aventuro-me a acrescentar algo à frase ao que Lutero pronunciou com tanta competência: Louvar bem é estudar mais. O louvor é o grande instrutor. A oração e o louvor são os remos com os quais o homem pode conduzir o barco às águas profundas do conheci¬mento de Cristo.

A próxima bem-aventurança no louvor é ser aceitável a Cristo. Parece claro que o Senhor Jesus se agradou; ficou triste ao pensar que os outros nove não tivessem voltado, mas ficou encantado com esse único homem que voltou. A pergunta: "Onde estão os outros nove?", contém em si o elogio àquele. Tudo o que agrada a Cristo deve ser cuidadosamente cultivado por nós. Se o louvor lhe é agradável, devemos engrandecer seu nome continuamente. A oração é a palha do trigo, mas o louvor é a espiga. Jesus ama ver a folha ir crescendo, mas seu amor é maior pela colheita das espigas douradas ao ficar madura a colheita do louvor.

Note em seguida que a bem-aventurança da gratidão é recebera maior bênção, pois o Salvador disse a esse homem o que não falou aos outros: "sua fé o salvou". Se você quiser viver de forma mais sublime, louve muito a Deus. Alguns de vocês ainda estão na condição mais baixa, da mesma forma que este homem samaritano; mas por meio do louvor a Deus, ele se qualificou como cantor em vez de estrangeiro. Com que freqüência noto que o maior pecador acaba se transformando em quem louva mais! Quem estava mais longe de Cristo, da esperança e pureza, acha-se, depois de salvo, o maior devedor e, por isso, ama mais. Que seja a ambição de cada um de nós, mesmo que não estivéssemos originariamente entre os mais vis dos vis, sentir que, mesmo assim, devemos o máximo a Jesus; e que por isso o louvaremos mais: assim receberemos a mais rica bem-aventurança das suas mãos!

Depois de ter dito essas três coisas, ainda não terminei. Aprendamos com tudo isso a colocar o louvor em posição de evidência. Realizemos cultos de louvor. Consideremos que negligenciar o louvor é um pecado tão grande quando refrear a oração.

E, ainda: dirijamos o louvor ao próprio Cristo. Independentemente de irmos aos sacerdotes, ou não, dirijamo-nos a ele. Louvemo-lo de modo pessoal e veemente. O louvor pessoal ao Salvador pessoal deve ser nosso objetivo na vida.

Por fim, se trabalharmos para Jesus e virmos conversões, e os convertidos não ficarem do jeito que esperávamos, não desanimemos com isso. Se outras pessoas não quiserem louvar nosso Senhor, fiquemos tristes, mas não decepcionados. O Salvador comentou: "Onde estão os nove?". Dez leprosos foram curados, mas somente um o louvou. Temos muitos convertidos que não se unem à igreja; várias pessoas se convertem sem se apresentar para o batismo e para a Ceia do Senhor. São numerosas as que recebem uma bênção, mas não sentem amor suficiente para reconhecê-la publicamente. Os ganhadores de almas dentre nós são destituídos da recompensa pelos espíritos covardes que escondem a fé. Dou graças a Deus porque, em tempos recentes, tivemos muitas pessoas que declararam sua conversão; mas se os outros nove viessem, precisaríamos de nove Tabernáculos. Que lástima muitos terem retrocedido depois de professar a fé! Onde estão os outros nove?

E assim vocês que realizam reuniões de oração nos lares, que circulam distri¬buindo folhetos, estão fazendo um bem maior do que ficarão sabendo. Vocês não sabem onde estão os nove, mas mesmo abençoando apenas um entre dez, terão motivo para dar graças a Deus.

"Oh", diz alguém, "Tive tão pouco sucesso; só uma alma foi salva!". Isso é mais do que você merece. Se eu pescasse durante uma semana, e pegasse um só peixe, ficaria triste; mas se acontecesse ser um esturjão, um peixe da realeza, consideraria a qualidade compensação da falta de quantidade. Quando você ganhar uma alma, será uma pesca grandiosa. Uma alma trazida a Cristo — você pode estimar o seu valor? Se uma alma for salva, deverá sentir gratidão ao Senhor, e perseverar. Embora deseje mais conversões, não desanimará por poucas serem salvas; e, acima de tudo, não ficará zangado se algumas delas não lhe agradecerem pessoalmente, nem se unirem à sua igreja. E comum a ingratidão para com os ganhadores de almas. Quão freqüentemente um ministro traz pecadores a Cristo e alimenta o rebanho na juventude, mas quando envelhece e fica fraco, querem se ver livres dele, e conseguir alguém do tipo "vassoura nova varre melhor". "Pobre e velho cavalheiro, totalmente antiquado!", dizem, e assim se livram dele, como os ciganos abandonam um cavalo velho em terreno baldio para se alimentar ou morrer de fome — para eles é indiferente. Se alguém esperar gratidão, lhes farei lembrar desta bem-aventurança: "Bem-aventurados os que não esperam nada, porque não ficarão decepcionados". Mesmo o Mestre não recebeu o louvor da parte dos nove: por isso, não admire se você abençoa outros, e os outros não o abençoam. Quem dera que alguma pobre alma viesse a Cristo nesta noite, al¬gum leproso para ser curado da doença do pecado! Se alguém receber a cura, venha para frente e, em voz alta, engrandeça o Senhor que lhe tratou tão generosamente.

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