O médico dos médicos – (Sermão) - C. H. Spurgeon
Manhã de Domingo, 30 de Junho de 1878

"Jesus lhe disse: 'Eu irei curá-lo.'" (Mateus 8.7)

"Então disse Jesus ao centurião: 'Vá! Como você creu, assim lhe acontecerá!'" (Mateus 8.13).

O centurião de Cafarnaum é um exemplo para nós sobre uma questão que diz respeito ao dar generosamente. Esse bom soldado se importava com os enfermos, ansiava pela recuperação do seu servo paralítico. Todo empregador deve se interessar com simpatia pelos seus empregados quando estiverem doentes, mas, em alguns casos, isso não ocorre. "Se não conseguirem dar conta do serviço, precisarão ser demitidos"; esta, com frequência enorme, é a linguagem usada para falar deles, e eles são tirados da casa tão logo isso seja possível. Não digo que os patrões e as patroas sejam cruéis, mas lamento que alguns deles não sejam nada gentis. Entre as pessoas religiosas, a bondade com o próximo deve ser tão manifestada quanto a devoção a Deus. O centurião fizera tudo quanto lhe era possível para beneficiar religiosamente o povo entre o qual morava, pois os líderes religiosos dos judeus disseram: "Ele ama a nossa nação e construiu a nossa sinagoga." No entanto, o centurião combinava, juntamente com o desejo de beneficiar a alma, um desejo sincero pelo bem-estar do corpo; e isso ficava aparente no interesse que dedicava ao seu criado pessoal, ou "filho". Deus juntou o corpo com a alma, e não deve haver separação entre os dois em nossos atos de caridade.

A compaixão deste capitão com seu criado que sofria foi demonstrada por sua atuação prática. Não disse que tinha pena dele, para então sair para a sala de guarda e se manter longe do jovem enfermo; nem ficou parado para observá-lo na sua dor, para ver como passaria, mas entrou em ação e saiu para reunir os líderes religiosos da cidade, e chamou seus amigos escolhidos: na realidade, fez o círculo inteiro dos seus conhecidos sentir pena pela enfermidade do seu criado particular. Em seguida, enviou esses líderes religiosos e amigos ao melhor médico daqueles tempos, e acho que ele mesmo os seguiu a distância: empregou os meios mais seguros que estavam ao seu alcance e apelou a Cristo, a quem ninguém nunca apelou em vão. Pela atitude do centurião, entendo que não devemos nos satisfazer com amarmos o nosso povo e construir sinagogas para eles, mas também devemos construir hospitais e dispensários. Procurem pregadores para eles, certamente, mas também procurem cirurgiões. Não devemos nos esquecer da alma, mas também devemos nos lembrar de que a alma habita num corpo passível de muitas enfermidades. É possível alguém se tornar um pouco espiritual demais, tão espiritual a ponto de fazer sumir como espírito o próprio espírito do cristianismo. Deus nos conceda graça para termos a mesma terna consideração da humanidade sofredora que esse centurião tinha, e provavelmente seremos assim se tivermos a mesma fé forte e humildade profunda dele.

Nosso Senhor também, em nosso texto, nos oferece um exemplo, que pode pleitear conosco em favor dos hospitais hoje; pois ele estava aqui cumprindo a missão sublime da nossa redenção, mas não considerava seu propósito divino prejudicado em nada pela sua ocupação contínua de curar enfermidades. Durante três anos, ele andou pelos hospitais: vivia o dia inteiro numa enfermaria; e, em certa ocasião, todos deitavam os enfermos ao seu redor, nas ruas, e a cada momento o mal físico, de uma ou outra forma, surgia em seu caminho. Ele estendia a mão, ou falava a palavra, e curava a todos os tipos de doenças. O Senhor fazia isso de bom grado, pois fazia parte da sua obra vitalícia. "Eu irei curá-lo", disse ele, pois era médico com uma clínica constante, e estava sempre pronto para visitar o paciente. "Ele andava praticando o bem", e em tudo isso Jesus deixava os seus saberem que pretendia abençoar, não uma única parte do homem, mas a totalidade da nossa natureza, e que levava sobre si mesmo, não somente os nossos pecados, mas as nossas enfermidades. Jesus pretende abençoar o corpo também juntamente com a alma; e embora tenha deixado, pelo tempo presente, nosso corpo muito sujeito ao poder da enfermidade, porque ainda "o corpo está morto por causa do pecado, mas o espírito está vivo por causa da justiça" (Rm 8.10), ele prenuncia sua ressurreição nos seus milagres de cura; quando ele nos ressuscitar perfeitamente curados, e os habitantes já não dirão: "Estou doente." Cada membro restaurado, cada olho aberto, e cada ferida sarada é um sinal de que Jesus cuida da nossa carne e sangue, e significa que o corpo compartilhará dos benefícios da sua morte numa ressurreição gloriosa.

Assim como na vida de nosso Senhor seus ensinamentos sempre estavam ligados à cura, ele quer que as igrejas também se interessem profundamente pelas aflições físicas do povo como por suas necessidades espirituais. Seria lastimável se se considerasse que a benevolência está separada do cristianismo, porque até agora a coroa da fé em Jesus tem sido o amor aos homens; é, realmente, a glória do cristianismo que, onde ela penetrar, levanta prédios totalmente desconhecidos ao paganismo - hospitais, asilos e outras habitações de caridade. O gênio do cristianismo é compaixão pelos pecadores e por aqueles que sofrem. Que a igreja sirva para curar, assim como seu Senhor; se ela não pode derramar poder a partir de um toque na orla da sua veste, nem "dizer uma palavra" para afugentar a enfermidade, que ela esteja entre os mais dispostos a ajudar em tudo quanto possa aliviar a dor ou mitigar a pobreza. Assim deve ser porque "conforme Jesus era, assim somos nós no mundo". Ele nos disse: "Assim como o Pai me enviou, assim envio vocês." Não podemos ser diligentes demais no estudo do seu caráter, pois ele nos deixou um exemplo para seguirmos seus passos. Uma vez que não conseguimos praticar a arte da cura, vamos apoiar totalmente aqueles cujo tempo inteiro é dedicado a ela, a fim de que possam, sem salário nem recompensa, cuidar dos doentes pobres; e que ninguém entre nós seja mesquinho quanto os cegos, os paralíticos e os mancos clamam a nós, conforme clamaram ao nosso Mestre na Antiguidade.

Agora, passando para um assunto de teor espiritual, pensemos no desenvolvimento da fé do centurião e, com isso, na manifestação crescente do poder de nosso Senhor. Ambos podem ser vistos nessa narrativa.

Parece claro que o centurião ouvira falar de Cristo; talvez a cura da filha do chefe da sinagoga o convencera de que Jesus é o Messias. O centurião frequentava a sinagoga. Não nos ocorre pensar que o homem que edificara a sinagoga não a frequentasse; e ali aprendera a respeito do Messias Vindouro, anunciado pelos profetas e esperado pelos santos. Esse Ungido realizaria maravilhas entre a raça humana, principalmente milagres de cura. Assim, concluíra que Jesus era o Cristo, e acreditava que ele tinha poder salvífico para curar seu servo doente.

O primeiro resultado prático foi, com humildade, enviar os líderes religiosos com o pedido urgente de ir curá-lo. Acreditava que Jesus, se estivesse presente, restauraria o jovem moribundo. Pensara a respeito do caso, e sua fé chegara à altura daquela de Maria e Marta, quando disseram: "Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido." Com efeito, ele disse: Se tu queres vir para cá, grande Mestre, meu servo não morrerá. Foi por isso, exclamou: "Vem curá-lo." Observem que a resposta de nosso Senhor foi exatamente proporcional à medida de fé contida na oração; Jesus disse: "Eu irei curá-lo". "Tu dizes: vem curá-lo; eu respondo, irei curá-lo." Até esse ponto, é tudo bem lógico; mas a fé do capitão deve ser examinada a uma luz ainda mais clara. Ficou considerando o caso mais profundamente, e sua humildade o leva à convicção de que não deve esperar que Jesus fosse à casa dele. Por que o capitão incomodaria o Mestre a ponto de este deixar a multidão e cessar de pregar, a fim de ir atender aquele criado? Arrepende-se de ter pedido semelhante visita; sente-se indigno de hospedar uma pessoa tão santa e tão grandiosa, e, por isso, enviou seus amigos com a máxima pressa para apresentar seus humildes pedidos de desculpas, e pedir ao Mestre que não viesse. Ao mesmo tempo, progrediu na sua fé no poder de Cristo, pois diz, com efeito: "Não há necessidade da tua chegada pessoal; é só determinar, meramente falar a palavra, e a cura será realizada. Pois eu também sou homem sujeito a autoridade, derivo autoridade por estar sujeito a ela, e só preciso mandar um soldado ir, e outro vir, e cumprem a minha vontade. Não tenho necessidade de executar pessoalmente a minha vontade, pois a minha vontade governa a minha tropa, e cada homem está desejoso de cumprir as minhas ordens. Portanto, grande Mestre, fica onde estás, continua nos seus outros trabalhos, e só determina abençoar-me, e isso bastará; teu desejo será cumprido sem falta. Ó grande Imperador de todas as forças do universo, ordena que tuas águias triunfantes voem nesta direção, e o inimigo desaparecerá de diante de ti." Aqui havia uma fé crescente, e lado a lado com ela havia uma manifestação mais clara do poder do Mestre. Nosso Senhor Jesus determina, ali mesmo, e no mesmo instante, que o poder da cura partisse dele; ele não dá mais um passo em direção à casa onde jaz o paciente paralítico, mas, pelo contrário, volta seus passos, e, cumprindo o desejo do centurião, vai embora; no entanto, o milagre já é operado, o jovem paralítico se levantou da cama, o coração do capitão se alegra, e aqueles que foram pedir a bênção a Jesus ficam em pé na casa, para louvar ao Senhor. Tocados por reverente temor pela proximidade tão manifesta do dedo de Deus, o que poderiam fazer, senão bendizer a Deus que visitara o seu povo?

A narrativa é essa, e ela comprova que nosso Senhor Jesus é onipotente no mundo físico. Ele pode fazer o que quer, e, embora nos tempos presentes não apelemos a ele por curas milagrosas, seria melhor confiarmos mais nele quanto a isso, posto que todo o poder que reside na medicina e a totalidade da perícia que se acha nos médicos somente são eficazes mediante a sua terna misericórdia. Sabemos, no entanto, que nosso Senhor é onipotente no mundo moral e espiritual; e nesses âmbitos ele demonstra hoje suas proezas mais sublimes de poder e de sabedoria. Vamos pensar a respeito disso, e que o Espírito Santo torna esse meditação proveitosa para nós!

I. A primeira coisa a considerar é a perfeita disposição de nosso Senhor Jesus para realizar obras de misericórdia. O centurião se importava com o seu empregado, assim como vocês e eu hoje nos preocupamos com certas pobres almas que jazem paralisadas no pecado. Lastimamos por elas e, se pudéssemos curá-las, estaríamos dispostos a qualquer abnegação ou sofrimento. Se pudéssemos levar nossos vizinhos a Cristo, seria a máxima alegria para nós; suas almas que perecem são para alguns entre nós como uma pedra enorme, um fardo pesado para carregar. Como podemos suportar vê-los morrer? A massa dos trabalhadores em nosso redor e a maioria dos nossos vizinhos ricos estão debaixo do poder do iníquo. Para eles, as coisas visíveis são os únicos objetos dos seus pensamentos. Não querem levar em conta o evangelho de Cristo, ou a eternidade, ou o juízo, ou o céu, ou o inferno. Os privilégios que nosso país possui tão amplamente são tratados como se não tivessem o mínimo valor: os domingos, as Bíblias, o evangelho, e o trono da graça são desprezados. Isso é realmente lastimável! Irmãos, nós devemos recorrer a Jesus no tocante a essa situação ruim, e poderemos ser ajudados a fazer isso se pensarmos agora na sua grande disposição para abençoar um empregado ou filho, ou qualquer outra pessoa que levamos diante de Jesus em oração.

Perceberemos aquela boa disposição se notarmos, em primeiro lugar, que ele não levantou objeções contra as petições que os líderes judaicos apresentavam em favor do centurião, embora devessem ser pouco agradáveis à sua mente. Disseram: "Este homem merece que lhe faças isso": não era o estilo certo de pleitear com aquele que veio salvar os perdidos e abençoar os que nada merecem na sua livre graça. Os líderes religiosos disseram: "porque ama a nossa nação e construiu a nossa sinagoga" (Lc 7.6), e assim por diante. Os pobres coitados estavam se esforçando ao máximo e usando o tipo de argumento que sustentava suas próprias esperanças. Nosso Senhor levou em consideração o espírito da intercessão deles, mais do que a forma na qual a apresentaram; e embora a petição, que tanto ressaltava o mérito humano, pudesse muito bem lhe ter dado ensejo para dizer: "Fiquem quietos, pois vocês estão estragando o caso, em vez de ajudarem", nosso Senhor estava tão bem disposto que não levantou nenhuma objeção. À distância, Jesus interpretou o coração do centurião e percebeu que os intercessores desse bom homem estavam representando erroneamente as suas opiniões e os seus sentimentos. A última coisa no mundo que o soldado modesto teria pleiteado seria o merecimento pessoal. Suas próprias palavras eram: "Não sou digno." Se ele soubesse que seus intercessores falariam dessa maneira, nunca teria permitido que falassem em favor dele. Se o centurião estivesse ali, teria dito: "Suas palavras me cortam profundamente, pois não sou digno. Não posso me jactar do pouco que consegui fazer. Não fiz nada mais do que deveria ter feito. Não falem desse modo ao meu Senhor." Jesus, porém, estava tão disposto a ir que suportou o mau jeito dos líderes religiosos, e respondeu, diante do pedido deles: "Eu irei curá-lo." Irmãos, é muito provável que vocês e eu cometamos erros igualmente grandes quando oramos; imaginamos que estamos orando corretamente, mas não sei o que nosso Senhor pensa das nossas orações. Talvez, muitas vezes, ele tenha de selecionar, entre os erros dos nossos lábios, a intenção do nosso coração; mas ele está tão disposto a nos abençoar, que se houver, em primeiro lugar, uma mente disposta, nossa oração não deixará de ser atendida, pois Jesus se regozija em atender toda oração que busca cura para as almas adoecidas pelo pecado.

A boa disposição de Jesus é vista, ainda, no fato de ele tão alegremente atender à primeira oração na forma em que foi colocada. Rogaram-lhe que ele "fosse curar" aquele criado. Ora, não era essa exatamente a melhor forma para fazer o pedido, e certamente não era aquela que se recomendaria aos pensamentos mais maduros do centurião. Por que Jesus iria? Ele conseguiria curar o paciente sem sair do lugar. Não havia uma medida considerável de incredulidade na oração dos líderes religiosos? Entretanto, nosso bendito Mestre aceitou a oração exatamente como foi proferida e parecia dizer: "Veja a medida da sua fé, e lhes darei a bênção conforme vocês são capazes de recebê-la." O Senhor é muito generoso ao condescender às nossas capacidades; e se ele sempre agisse de acordo com seu próprio padrão divino, ficaríamos grandemente ofuscados, mas teríamos medo de nos aproximar dele. Ele, com condescendência, deixa de lado o esplendor da sua majestade, a fim de agir e falar conosco segundo o modo dos homens, e então vemos a doçura da sua graça voluntária e a alegre disposição do seu espírito para nos fazer o bem. Se não conseguimos receber uma bênção de qualquer outra maneira do que num estilo tipo "segunda classe", ela nos será dada de um modo que nos capacita a recebê-la; já que a nossa fé não consegue progredir mais além, ele operará a maravilha de uma maneira que nosso modo fraco de pensar possa conceber e pedir e receber. Oh, que amigo disposto temos em Cristo! Ele encurva os céus e desce, e se encontra com os fracos na fraqueza dele, e com os débeis na debilidade dele; e atende às orações, não somente segundo as riquezas da sua glória, mas também segundo a pobreza da nossa insuficiência.

Quando o centurião enviou uma nova comitiva dos seus melhores amigos, para dizer ao Mestre: "Senhor, não te incomodes, pois não mereço receber-te debaixo do meu teto,"nosso Senhor não colocou defeito na mudança de oração. Algumas pessoas teriam dito: "O que é que você quer? Primeiro, eu devo ir, e quando estou quase chegando ali, alguém vem ao meu encontro com um pedido para eu não ir, o que significa isso? Isso é falta de respeito, e não irei mais." Nosso meigo Jesus não falava assim. Nada disso! Essa linguagem pode proceder de você e de mim, pois somos tão grandes em nossa própria estima, mas não da parte de Jesus, pois ele é tanto mais grandioso do que nós. Ele não pensava em si mesmo, nem na sua própria dignidade. Imitemos o espírito meigo e calmo dele. Quando vocês estiverem tentando praticar o bem, terão de mudar o rumo por causa das venetas daqueles a quem vocês procuram beneficiar. Vocês descobrirão que, quando fizerem o que as pessoas lhes pedirem, elas não ficarão satisfeitas; muitos adultos são semelhantes a crianças doentes, que sempre estão de mau humor e queixosos. Devemos ser indulgentes com esses pobres corações, assim como nosso Senhor o era. Ele estava tão disposto a abençoar que parecia dar carta branca àqueles que lhe pediam alguma coisa: "Sim, você receberá a benção de qualquer modo que você quiser, para que você seja capaz de recebê-la. Será dada a você de conformidade com sua fé." Nosso Senhor adaptava seus movimentos sem pressão, e iria até a casa, ou não, dependendo de como a fé do centurião o levasse a orar. Bendito, eternamente bendito, seja nosso muito glorioso Senhor, que nunca se cansa de nós, nem se ofende com nossas mudanças infantis.

A disposição do Salvador para abençoar o criado desse centurião ficou bem manifesta no fato de ele não imputar o centurião um motivo errado quando este lhe pediu que refreasse de visitar a casa dele. Nosso Senhor não desconfiava assim. Ele sabia demais, tanto a respeito do mal do homem quanto a respeito da sinceridade das pessoas às quais outorgava a sua graça, para suspeitar e para interpretar com severidade. A ignorância e o egoísmo são desconfiados, mas o amor não pensa mal. Se existirem duas maneiras de interpretar uma frase, meus irmãos, e uma é melhor do que a outra, sempre a interpretem do modo mais generoso possível, se puderem. Nunca coloquem interpretações severas nas palavras e ações. Você e eu poderíamos ter dito na situação diante de nós: "Vocês percebem que ele não me quer na sua casa luxuosa. Ele é um centurião e tem a si mesmo no mais alto conceito, e eu estou usando vestes pobres, e por isso, ele não me quer na sua vila, para ser uma vergonha nos seus salões. Ele é um capitão, um homem de autoridade, com soldados que se sujeitam a ele, seu orgulho proíbe minha aproximação, e por isso não vou querer nada com ele." Mas não, pensar tão amargamente não estava no coração do Mestre, mas, assim como no início ele dissera "Eu irei curá-lo", assim também, quando a humildade genuína pede que ele não venha, ele volta para trás, sem deixar da realizar o milagre. Irmãos e irmãs, nosso Salvador condescendente deve estar bastante disposto a abençoar os homens, pois ele aceita a intenção verdadeira das suas orações, ao passo que outros adotariam uma interpretação severa. Não tenham medo de aproximar-se dele, por mais indignos que vocês sejam, pois ele atribuirá o melhor sentido às suas petições incoerentes, e as interpretará sempre de modo vantajoso para vocês. Os discípulos dele podem criticar severamente uns aos outros, e podem criticar vocês, mas não foi no convívio com ele que aprenderam palavras duras.

Cristo não objetou em nada à comparação que o centurião fez. Disse o centurião: "Eu também sou homem sujeito à autoridade." Se você lesse aquela expressão com óculos escuros, poderia fazer muita malícia com ela. Um implicante poderia dizer: "Como ele ousa comparar-se com o Filho de Deus, mesmo por um só momento? Como ele pode tirar um paralelo no qual ele é um dos lados, e o bendito Senhor, o outro? Que impertinência!" Irmãos, nosso Senhor não era nenhum crítico. Não; entre aqueles que põem defeito, vocês nunca vêem o Cristo de Deus. Quando ele está lidando com pessoas sinceras, não põe defeitos, não enxerga maus motivos, nem ressalta erros. O centurião não pretendia que sua metáfora fosse uma equivalência literal, e o Senhor não lidou com ele como se ele tivesse essa intenção. Muitas vezes, nós sofremos esse modo de ataque, mas nunca da parte de nosso Mestre, nem daqueles que o imitam. Ele captou a intenção da ilustração do centurião e a admirou; pois realmente era uma idéia grandiosa e bela, expor nosso Senhor Jesus como o grande Imperador do universo, cuja autoridade governa todas as coisas, e diante de cuja mínima palavra cada força, quer seja boa, quer seja má, certamente presta obediência. Demonstrou ter avaliado Cristo corretamente, e o entronizou, conforme ele deve estar entronizado, no lugar da soberania e poder ilimitados. Por isso, o Mestre não discordou de nada do que o centurião disse. Pelo contrário, fora feita a oração para que o criado fosse curado, e a oração foi atendida: tinha sido exercida aquela fé que cria que Cristo podia curar, e aquela fé foi honrada. Nosso Senhor fez exatamente aquilo que a oração pediu da parte dele. Veio, quando foi pedida a sua vinda; parou, quando lhe foi pedido que parasse. Falou a palavra quando lhe foi pedido que falasse a palavra; curou quando lhe foi pedida a cura. Em todas as coisas, cumpriu totalmente os pedidos do centurião para demonstrar seu entusiasmo bem disposto para beneficiar o jovem que sofria e para atender a oração do patrão desse criado. Venham, portanto, caros amigos, nós podemos ter total certeza da compaixão de nosso Senhor, embora não estejamos orando a respeito de um jovem doente, mas pleiteando em favor dos nossos vizinhos pecaminosos. Ele ama os pecadores mais do que nós os amamos, porque eles custaram a ele muito mais do que já custaram a nós, mesmo que tenhamos passado noites de vigília e oração em favor deles. A Cristo, o Pai confiou a obra de salvar os perdidos, e seu zelo para cumprir essa obra nunca diminui; e, por isso, podemos ter a certeza de que nossos rogos e nossos esforços tocarão acordes afins no coração dele.

II. Em segundo lugar, um tema igualmente interessante está diante de nós na capacidade consciente de nosso Senhor. Vocês já viram sua perfeita disposição; agora contemplem seu poder ilimitado. Não sei como isso afeta a mente de vocês, mas aquela frase dos lábios de Jesus - "Eu irei curá-lo" - tem em si, para minha alma, uma majestade estranha. É a palavra de um rei, na qual há poder. Talvez as palavras mais majestosas já pronunciadas sejam "Haja luz"; tão logo foram ouvidas, as trevas eternas fugiram, e houve luz; mas, por certo, as palavras da segunda frase não são secundárias na grandeza; seu som é tanto a voz do Senhor quanto aquela que dissipou as trevas primevas: "Eu irei curá-lo." No entanto, essas palavras reais e poderosas foram faladas com toda a naturalidade; nosso Senhor Jesus não ficou deliberando, mas a palavra da cura fluiu dele tão naturalmente como o perfume sai das flores. "Eu irei curá-lo" é uma declaração resoluta, verdadeira, clara, compreensível e, para ele, natural e corriqueira, posto que ele não ficou nem um pouco perplexo com esse caso intricado. Qualquer outro médico teria sentido certa perplexidade. O caso é descrito como o de um paralítico, porém "em terrível sofrimento". Como poderia ser assim? A paralisia dificilmente está relacionada com dores agudas. Ela provoca a insensibilidade e assim elimina as sensações. Alguns intérpretes acham que a enfermidade deve ter sido uma forma de tétano, mas o tétano não é mencionado em nenhum dos relatos. Tratava-se de uma paralisia, porém ele estava "em terrível sofrimento". Não sei nada a respeito, mas já li que existe um período em que a paralisia pode se transformar em apoplexia, que deixa o paciente sofrer agonia extrema. Se for assim, isso talvez explique o mistério. No entanto, embora o caso deixasse muita gente perplexa, não foi mistério para o Senhor Jesus, pois ele disse: "Eu irei curá-lo." Ora, meus companheiros no ministério, vocês e eu não temos muitos casos que entram no nosso caminho, que põem à prova a nossa experiência e nos deixam sem jeito? Durante essa semana, tive de lidar com várias pessoas tentadas que me deixaram sem jeito, ou pelo menos eu teria me sentido assim se não tivesse emprestado recursos da parte do Senhor. Algumas experiências são como uma meada emaranhada, e não conseguimos seguir o fio, e quando o seguimos um pouco, nossa recompensa principal consiste em nós e embaraços. Vejam como Jesus varre para longe todos os debates com "Eu irei e o curarei". Jesus compreende todos os fenômenos complicados da enfermidade humana, e sua palavra poderosa abre caminho para si ao longo de todo o labirinto da experiência humana; imperturbável, e totalmente sem demora, a energia eterna entra na alma, pois Jesus diz: "Eu irei e o curarei."

Nem mesmo a extremidade do caso desanimou Jesus, porque esse pobre homem estava a ponto de morrer, assim nos conta Lucas, à beira do falecimento, porém Jesus diz: "Eu irei e o curarei." Para Jesus, não importa qual a etapa alcançada pela enfermidade. Um médico comum sacudiria a cabeça e diria: "Ah, você deveria ter me mandado buscar antes. Eu poderia ter feito alguma coisa antes, mas agora o mal já está além da possibilidade de qualquer ajuda humana." As pobres almas nunca estão além do alcance do Médico divino, e assim ele fala, sem nenhuma dúvida: "Eu irei e o curarei." E mesmo que o paciente tenha morrido, Jesus poderia ter dito e feito a mesma coisa. "Eu irei e o curarei" são palavras que servem para todas as emergências. Amados, nunca cessemos de esperar com oração, porque as pessoas em favor das quais pleiteamos são pecadores tão grandes e horríveis e avançadas no crime. Enquanto essas pessoas não estejam literalmente no inferno, vamos crer com firmeza que Cristo possa salvá-las; e, realmente, se conseguirmos crer em nosso grande Salvador com fé poderosa, e ainda o ouviremos dizer, a respeito de muitos réprobos e marginalizados: "Eu irei e o curarei."

Observo, ainda, que nosso Senhor fala dessa cura como questão bem corriqueira, pois sua linguagem é do tipo que os homens empregam quando sabem que estão perfeitamente capacitados na sua obra, e conseguem realizá-la tão logo é posta diante deles. Alguém pede que um artífice venha consertar uma fechadura ou uma janela, e este responde: "Sim, virei cuidar dela." Assim, ele quer dizer que consegue fazê-lo, que está bem dentro da sua competência, e que é tão fácil para ele quanto ir até lá. Da mesma maneira, nosso bendito Mestre pode salvar um pecador tão facilmente quanto o seu Espírito pode chegar àquele pecador, e todos sabemos que seu Espírito é um Espírito livre, e que ele, assim como o vento, sopra onde quer. Jesus poderia ir à casa do centurião, e poderia curar facilmente. "Eu irei e o curarei"; a obra é bastante simples para o Redentor divino, para quem nada é impossível. Nenhuma enfermidade do pecado pode desconcertar o Salvador, nem sequer lhe custar um esforço especial para expulsá-lo. Olhem para ele, confins da terra, e comprovem para vocês mesmos que ninguém está além do alcance da sua misericórdia. Que todos aqueles que me escutam hoje experimentem assim o seu poder para curar!

Quanto ao método do procedimento, nosso Senhor no seu poder consciente trata o modo de operar como questão de indiferença. Ele concede a primeira petição da maneira que lhe foi apresentada, e irá curar o paciente; mas quando lhe é pedido que não venha, ele diz, com a mesma boa disposição: "Seja feito segundo a sua fé." Ele podia curar igualmente de longe como de perto. Presente ou ausente, era a mesma coisa para ele. Um toque, uma palavra, um pensamento podiam fazer tudo quanto era necessário. Era assim, e continua sendo assim, porque nosso bendito Senhor salva de todas as maneiras os pecadores. Podem salvá-los nossos assentos da igreja, ao escutarem a pregação que ouviram tão constantemente, ou podem encontrá-los quando estão a sós num quarto, lendo um livro piedoso; ou pode alcançar seu coração mediante uma palavra amorosa falada enquanto caminham com um amigo. Em certos casos, ele chamou os homens pela sua divina graça quando estavam em pleno caminho do pecado, ferindo-os com flechas secretas quando se sentiam à vontade e seguros no serviço do diabo, numa situação em que nenhum "meio da graça" (como os chamamos) estava presente, porém, os pecadores senti-ram-se aflitos no seu coração e se voltaram para Deus pela influência celestial do Espírito, que permanece sendo o milagre supremo da aliança presente. Saulo de Tarso não estava de joelhos em oração, mas se apressando para derramar sangue inocente, porém o Senhor o humilhou e o levou a buscar a salvação. Amados, nosso Senhor sabe como alcançar pessoas inacessíveis; elas podem excluir a nós, mas não podem excluir a ele. Isso deve nos encorajar muito ao intercedermos em favor das almas que estão fora do alcance usual da nossa atuação. Quando intercedemos com Jesus, não desejemos nunca limitá-lo aos modos e às maneiras da nossa própria escolha, mas deixemos por conta dele o método da salvação.
Jesus estava tão consciente do seu próprio poder que nunca vemos nele uma expressão de espanto, nem a menor manifestação de surpresa quando sua vontade é cumprida, ou quando é realizado um milagre notável. Não, mas realmente se maravilhou com a fé do centurião e, em outra ocasião, maravilhou-se diante da incredulidade do povo. Para Cristo, não é motivo de surpresa que ele salva os pecadores, pois ele tem o hábito de assim fazer, e ele é tão capacitado para fazê-lo. Vocês e eu nos maravilharemos e, durante toda a eternidade, declararemos essa maravilha, cantando com enlevo e surpresa a benignidade de Cristo Jesus e o seu poder de perdoar; mas, para ele, não é nada maravilhoso. É quase inconscientemente que dele sai poder, pois ele está tão cheio de poder que pode abençoar por todos os lados, e quase nem tomar consciência disso. Assim como o sol brilha ao norte, ao sul, a leste e a oeste, sem nunca estranhar seu próprio brilho; ou como uma fonte emite suas gotas cintilantes, e nunca pára a fim de se admirar ou de se maravilhar diante de seu próprio fluxo brilhante, assim Jesus pronta e facilmente, a partir da sua própria natureza, dissemina o perdão e a salvação por todos os lados. Ele se maravilha diante da nossa fé, e se maravilha ainda mais frequentemente da nossa incredulidade, mas, para ele, seu próprio poder não é mesmo assunto para lhe causar espanto. Amados, quero que vocês guardem com firmeza este pensamento, se puderem, e rogo-lhes que o entesourem no coração - que Jesus Cristo é incomensuravelmente poderoso para salvar. Nós nem cremos em metade disso; pensamos que sim, mas nem sequer cremos numa décima parte, pois quando nos encontramos com um caso um pouco difícil, ficamos desesperados e dispostos a desistir. E nós logo abandonamos as pessoas desesperadas em sua melancolia; queremos evitar homens e mulheres melancólicos; desejamos nunca os ter visto, em vez de sentirmos fé suficiente para alcançar a situação deles, e de intercedermos pela fé até os vermos felizes em Cristo. Caso encontremos um blasfemador horrível, ou quem vive na imundície, ou um beberrão, como se estivéssemos na terra dos monstros, ao passo que em tais casos nosso Senhor se sente bem à vontade, e devemos orar mais a respeito de tais pessoas, e estar mais confiantes de que o evangelho tem o propósito de solucionar seus males mais graves. Não existe um grande Salvador para os grandes pecadores?

III. Vamos encerrar com um tema igualmente interessante e de grande valor prático. Já falei da boa disposição de nosso Senhor e do seu poder; agora, veremos o método permanente do nosso Senhor Jesus.

O primeiro método mencionado aqui foi "Vem curá-lo". Naqueles tempos, Jesus andava pelos arredores praticando o bem, mas ele agora não outorga sua presença corpórea, nem dá sinais físicos de ficar perto de uma pessoa.

Se alguém nos disser: "Olhem aqui" ou "olhem ali", não acreditemos nessa pessoa, pois Jesus não está agora fisicamente presente na Terra; ele subiu às alturas. Não oramos agora "Vem curá-lo" no sentido de esperar uma visão ou revelação de Cristo segundo a carne àqueles que amamos. Nossa esperança é que ele virá, algum dia, pela segunda vez, e curará as enfermidades deste pobre mundo, mas até então, não o conhecemos segundo a carne, nem procuramos um aparecimento pessoal. O outro modo, permanente, da atuação de nosso Senhor foi que ele falasse a palavra, e assim, realizasse a cura. "Dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado." Esse é o método de nosso Senhor hoje, e no decurso de toda a presente aliança. O poder de Jesus para curar não é visto na sua presença pessoal, mas pelo poder da sua palavra como resposta à oração da fé. Esse, a partir de então, é seu método fixo e permanente de curar: a palavra tornada eficaz mediante a oração da fé. Ora, quero que vocês notem que esse modo de operação é externamente semelhante ao modo usual e natural de o Senhor exercer seu poder na natureza e na providência. Embora seja claramente uma das formas mais sublimes da ação sobrenatural, talvez não pareça assim à primeira vista. Vejam o seguinte: quando Jesus fica em pé ao lado de um leito de enfermidade, inclina-se sobre a criança doente e toca na sua mãozinha, e a criança é curada, o ato é notável, e é um grande milagre; mas não parecerá, a vocês, ser uma demonstração ainda maior de poder (se fosse possível) quando Jesus fica distante, sem visitar o enfermo, nem sequer falar de modo audível no quarto escuro, porém sua simples vontade consegue vivificar e restaurar a saúde? É uma demonstração muito clara do poder divino, não é verdade? É a cura pela vontade, ou por uma única palavra, da parte de Cristo. No entanto, por algum motivo, não parece tão impressionante, de alguma forma, para os olhos semi-abertos quando estes olham do ponto de vista mais geral; pois é exatamente assim que o bom Deus está operando todos os dias na natureza e na providência, realizando seus propósitos mediante a sua vontade silenciosa, e por aqueles ecos da sua voz na Criação, que ainda permanecem entre nós. Quando, faz pouco tempo, os campos de vocês estavam destituídos de plantas, e seus jardins, desolados, se o Senhor tivesse surgido repentinamente na glória inspiradora de reverente temor, e forçado a neve e o gelo a fugir diante dele, e depois, com mão benigna, tocasse nos vales e nas colinas, e os cobrisse de relva e de trigo, vocês teriam exclamado: "Esse é um grande milagre"; mas, na verdade, trata-se de uma demonstração de poder igualmente grande, quando a ação é levada a efeito, mesmo através de processos menos ofuscantes. A vontade do Senhor transforma as turfas do vale em exército de espigas de trigo e de flores de trevo; sua vontade silenciosa avermelha os cachos da videira e amadurece as frutas do jardim; essa não é também uma maravilha do poder? Mesmo quando o Senhor não surge montado nas asas dos querubins, nem fala frases audíveis de comando, a energia secreta da palavra eterna está sempre surgindo para nos dar estações da sementeira e da colheita, do frio e do calor. Qual forma mais divina de milagre deve ser desejada? Acredito que quando nós alcançarmos a posse de uma fé plenamente desenvolvida, perceberemos que estamos cercados diariamente pela onipotência de Deus, e consideraremos toda mínima folha de capim, com o inseto que nela se balança, e a gota de orvalho que a enfeita, como sendo uma manifestação tão clara do dedo de Deus, como quando o Nilo se transforma em sangue, ou o pó do Egito se transforma em moscas. Para o crente, os milagres não cessaram, pois o decurso comum da natureza enxameia com eles.

O poder da palavra como resposta à oração da fé é, agora, o modo de nosso Senhor abençoar, e esse método se adapta com exatidão à vontade da verdadeira humildade. A humildade diz: "Não sou digno que Deus faça alguma coisa que atraia a atenção para mim ou que me faça parecer mais honrado do que outras pessoas." A alma humilde ouve falar de alguém que foi salvo mediante um sonho ou de uma visão, e acha que não é digna de ser assim favorecida. Não, meu amigo, você não precisa desejar tal coisa, pois a palavra do Senhor basta, e essa palavra está perto de você neste momento, na sua boca e no seu coração, basta você escutar e você viv

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